Globo
Abraçar aqueles que te chamam de “Globolixo” e agridem fisicamente seus repórteres só pode ser fruto de um trauma mal resolvido
Talvez seja síndrome de Estocolmo. Abraçar aqueles que te chamam de “Globolixo” e agridem fisicamente seus repórteres só pode ser fruto de um trauma mal resolvido. Talvez seja saudade da posição que ocupou a partir de 1964, quando apoiou, direta ou indiretamente, a ditadura militar. Quem sabe, uma lembrança da violência promovida contra Brizola no Rio de Janeiro. Ou o desejo de, de alguma forma, reeditar a edição histórica do Jornal Nacional de 1989. Talvez ainda, uma nostalgia da aliança com Eduardo Cunha no golpe contra Dilma Rousseff. Ou mesmo, a lembrança profunda das horas dedicadas contra Lula em sua aliança com a Lava Jato. Pode ser tudo isso. Mas o principal motivo da edição de ontem do Jornal Nacional e da calibragem à direita de alguns comentaristas nos outros canais da emissora – agora abertamente alinhados com deputados e senadores contrários à cobrança de impostos sobre bancos, bilionários e casas de apostas – é mais objetivo: a Globo é uma empresa dos Marinho. E como tal, segue defendendo os interesses que sempre defendeu. Para defender que os ricos paguem mais impostos, os Marinho teriam que olhar para si mesmos. Afinal, o império que construíram se ergueu com base em subsídios generosos, políticas tributárias regressivas e incentivos fiscais. E se a taxação avançar, não será só a empresa que será atingida – os próprios sócios também sentirão. Mas há um outro ponto que não pode ser ignorado: a aliança com as bets. Não é preciso ser especialista em mercado publicitário para perceber a quantidade de dinheiro que essas casas de apostas estão injetando nos cofres da Globo. Foram elas, mais do que qualquer outro setor, as responsáveis pelos resultados positivos nos últimos balanços da emissora. Muito provavelmente, seguidas pelos bancos. A matéria do Jornal Nacional desta quinta-feira (3/7) apenas reforçou a assertividade do movimento do governo Lula e de sua base social ao promover o debate ‘pobres X ricos’. A narrativa tem funcionado: além de mobilizar a sua base social, mostra com clareza quem são os adversários nesse processo – e quem está sendo defendido por cada lado. Acredito que o governo e sua base social jamais se iludiram com a possibilidade de apoio da grande imprensa. Sabem que ela estará com o candidato da direita, que, ao que tudo indica, será Tarcísio de Freitas. Mas acelerar esse embate é estratégico: permite que a base eleitoral de Lula compreenda, com nitidez, que os editoriais da mídia tradicional têm interesses que se chocam com os do governo e, portanto, com os dela própria. O jogo de 2026 já começou. Os chupins e dissimulados perderam meses tentando tirar proveito. O governo federal e sua base social, ao contrário, ganharam tempo para se organizar. Vamos ver quem mais sairá ganhando com isso.