Segundo depoimentos de presos e de servidores da unidade, Joneuma mantinha encontros frequentes a portas fechadas com Dadá, sempre com o visor da porta coberto por papel, o que causava estranheza aos funcionários
As investigações sobre a fuga de 16 detentos do Conjunto Penal de Eunápolis, ocorrida em 12 de dezembro de 2024, revelaram um esquema que envolve regalias, negligência proposital e suposto envolvimento amoroso entre a então diretora da unidade, Joneuma Silva Neres, de 33 anos, e Ednaldo Pereira Souza, conhecido como Dadá, apontado como líder da facção Primeiro Comando de Eunápolis (PCE). A fuga em massa, considerada uma das maiores já registradas no estado, teve desdobramentos graves. De acordo com documentos obtidos pela TV Bahia, a própria diretora da penitenciária é suspeita de atuar para facilitar o plano de fuga e garantir benefícios ilegais aos detentos ligados ao grupo criminoso. Segundo depoimentos de presos e de servidores da unidade, Joneuma mantinha encontros frequentes a portas fechadas com Dadá, sempre com o visor da porta coberto por papel, o que causava estranheza aos funcionários. Além disso, ela teria autorizado a entrada irregular de itens como freezers, sanduicheiras, refrigeradores, roupas e até visitas sem revista, como no caso da esposa de Dadá, que ingressava no presídio sem qualquer inspeção. Um dos trechos da sentença que manteve Joneuma presa, assinada por um juiz do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), destaca que ela promovia reuniões particulares com chefes de facções e concedia privilégios inaceitáveis, contrariando normas de segurança carcerária.
Defesa alega “manutenção da paz”
O advogado de Joneuma, Artur Nunes, defendeu a atuação da ex-diretora, alegando que as medidas tinham como objetivo apenas “manter a paz e evitar conflitos entre presos”. “Dentro de uma unidade penal, vive-se de negociação, no sentido de estabelecer a ordem, evitando guerras e rebeliões”, justificou.
Ex-diretor do presídio também é alvo da investigação
Wellington Oliveira, ex-coordenador do presídio, também foi preso por suposta cumplicidade. Em seu depoimento, embora não tenha confirmado o relacionamento amoroso entre Joneuma e Dadá, ele confirmou os encontros privados entre os dois e apontou a existência de diversas irregularidades na gestão da unidade.
Envolvimento de ex-deputado federal
Outro nome citado nas investigações é o do ex-deputado federal Uldurico Junior, apontado por policiais penais como alguém que tinha livre acesso aos presos e mantinha contato com lideranças de facção sem passar por qualquer tipo de revista. Em abril, Joneuma entrou com um pedido judicial de auxílio financeiro contra Uldurico, alegando que o ex-parlamentar seria o pai de seu filho, nascido prematuramente enquanto ela já estava presa no Conjunto Penal de Itabuna. O advogado de Uldurico afirmou que ele não responde a nenhuma acusação formal e que o político tem interesse em realizar o exame de DNA o quanto antes.