Brasil 247
Entretanto, a disposição do governo brasileiro em resistir a imposições arbitrárias é clara
No primeiro dia da visita oficial de uma delegação do Senado brasileiro aos Estados Unidos, uma constatação alarmante ganhou corpo entre os parlamentares: o presidente norte-americano, Donald Trump, estaria determinado a submeter o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a uma situação de humilhação para sentir-se vitorioso em qualquer tratativa bilateral. A avaliação foi registrada pela jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico. Segundo os relatos obtidos pela comitiva, Trump repetiria com Lula a mesma estratégia adotada contra o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, exigindo concessões unilaterais e simbólicas como forma de afirmação de poder. A conclusão veio após reuniões com representantes da Câmara de Comércio Brasil-EUA, escritórios de advocacia com acesso à Casa Branca e integrantes do setor empresarial. Trump precisará sair com a sensação de vitória para entrar em acordo com o Brasil, ouviram os senadores. Tarifas como arma política e ameaça à soberania – O cenário se agravou com o anúncio de tarifas que podem alcançar 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida isola o Brasil da “vala comum” de 15% a 20% oferecida a outros países e é percebida em Brasília como retaliação à aproximação crescente com a China e ao avanço dos processos contra Jair Bolsonaro (PL) no Judiciário. A comitiva ouviu que Trump vê o processo contra Bolsonaro por tentativa de golpe como “perseguição” e, por isso, impõe barreiras comerciais ao Brasil como uma espécie de reação pessoal. Os senadores também foram alertados sobre a dificuldade de reverter essa posição, pois Trump deseja se apresentar internamente como vencedor de qualquer negociação internacional. Riscos de guerra comercial e perdas para empresas brasileiras – Mesmo com o prazo iminente para o início da nova tarifa, a pressão do setor empresarial ainda não alcançou força suficiente para influenciar a Casa Branca. Um dos setores mais atingidos é o aeroespacial. O impacto da medida não é desprezível, embora o governo brasileiro busque minimizar os danos por meio de crédito extraordinário e programas de compensação. Contudo, o prejuízo é estrutural. Setores como o de carnes, café e laranja, importantes para o superávit comercial, enfrentam riscos imediatos. A eventual substituição do Brasil por países como México e Colômbia nos EUA representaria uma perda estratégica duradoura. Lula mantém moderação, mas descarta rendição – Apesar das tensões e das provocações vindas de Washington, Lula tem adotado um tom moderado: “Espero que o presidente dos EUA reflita a importância do Brasil e resolva fazer o que num mundo civilizado a gente faz: tem divergência? Senta numa mesa, coloca a divergência de lado e vamos resolver, e não de uma forma abrupta”. Entretanto, a disposição do governo brasileiro em resistir a imposições arbitrárias é clara.