Zohran Mamdani – Foto: Shannon Stapletan/REUTERS
Os democratas ensaiam descolamento total, em termos monetários, dos republicanos
p/ Zohran Kwame Mamdani
Congelamento de aluguéis, tarifa zero para transportes coletivos, creches municipais e mercados públicos subsidiados – distribuição de renda, bancada pelo poder público, que a direita trumpista derrotada e desesperada diz ser versão de novo populismo, como destacam os sicofantas neoliberais em seus comentários reacionários na mídia americana e tupiniquim. Essa receita à qual o presidente Lula acrescentaria redução da jornada de trabalho com manutenção dos salários para sustentar sua valorização frente à espoliação do capital concentrador de renda e promotor da desigualdade social – tende a ser a nova bandeira progressista internacional; nesse momento, ela, vitoriosa, é levantada pela esquerda do Partido Democrata americano, ao qual é filiado o novo prefeito novaiorquino, o muçulmano imigrante Zohran Mamdani. Porém, ela só irá adiante, se for, historicamente, alterado o sistema monetário americano ortodoxo, que ainda se ancora na mentira desmascarada pela crise financeira neoliberal de 2008: a inflação não é fenômeno monetário e a teoria quantitativa da moeda, inventada pelos neoliberais, de que quanto mais emissão, mais inflação, é uma tremenda farsa. Assim, sairá de cena a ortodoxia monetária, à qual está amarrada o capitalismo periférico, transformado em colônia financeira, sendo substituída pela nova teoria, a MMT, defendida pelos democratas de esquerda, como Mamdani, segundo a qual o Estado emissor de sua própria moeda não enfrenta restrição fiscal que gera inflação. A emissão monetária sem limite, desde que o Estado não se endivide em moeda estrangeira, mantém a dívida pública – passivo público com o contrapolo de ativo privado – perfeitamente administrada, sustentando taxa de juro zero ou negativa. Os democratas ensaiam descolamento total, em termos monetários, dos republicanos, sob Donald Trump, que ajuda afundar o capitalismo americano com o tarifaço protecionista; para eles, rendidos, como Zohran Mamdani, à heterodoxia econômica, que dá baile na disputa eleitoral, em Nova York, Virgínia e New Jersey, o investimento prescinde de poupança, porque o Estado tem autonomia para gastar, garantindo a oferta e demanda em equilíbrio constante; a taxa de juro não cresceria acima do crescimento do PIB, deixando de alimentar especuladores de Wall Street e da Faria Lima. Na verdade, a MMT é a nova versão da luta de classe, em que os trabalhadores lutam para se libertarem da ortodoxia monetária neoliberal que mantém os salários em eterna armadilha, submetendo-os ideologicamente à superexploração da mais valia. Da mesma forma, os gastos sociais, que Mamdani está prometendo, não dependerão de aumento da arrecadação, no ambiente da nova heterodoxia monetária antineoliberal, visto que autonomia do Estado para gerar a poupança capaz de realizar os investimentos necessárias à demanda social, dispensa a arrecadação tributária; o sistema tributário, sob novo sistema monetário, adequado à MMT, Teoria Monetária Funcional, como dizem os democratas de esquerda, transformar-se-ia em mero regulador das atividades, não o seu determinante essencial.
Neocapitalismo à vista
Evidentemente, a generalização das determinações políticas de Mamdani – que demandam luta política acirrada nos próximos anos nos Estados Unidos e nas periferias capitalistas colonizadas pelo capital financeiro – deixa de guardar as características fundamentais do capitalismo super concentrador de renda e promotor de desigualdade social, como forma de sustentar taxa de lucro crescente, porque o Estado se coloca mais decididamente a serviço do consumidor, do trabalhador, em vez de estar submetido às ordens férreas do capital. O comando do Estado, na formação da taxa de juros, sintonizada com a emissão monetária descolada do ponto de vista do investidor especulativo, como ocorre, atualmente, por exemplo, na fixação da SELIC, no Brasil, inaugura nova sociedade; aliás, essa é a orientação essencial do Estado chinês, que se livrou do colapso de 2008, justamente, porque recusou a submeter-se ao modelo neoliberal do Consenso de Washington: câmbio flutuante, metas inflacionárias e superávit primário. Nesse momento, o próprio Donald Trump, afogado na derrota para a industrialização chinesa, submetida ao modelo monetário MMT, rebela-se contra o BC americano e sua ortodoxia monetarista; diretores do FED já defendem corte nos juros além dos 0,25%, para se chegar aos 0,5%; a taxa de juro crescentemente reduzida congelaria a dívida pública e o rentismo incontrolável atual superado proporcionaria oportunidade para melhor organização e planejamento da economia, rompendo a anarquia capitalista; não é à toa que os chineses estão dando um banho nos sobrinhos de Tio Sam, ao comandarem crédito público que garante juros baixos aos investidores e, claro, vantagem competitiva da disputa global. E o Brasil, ficará com a anarquia americana ou a organização e o planejamento chinês, para fugir da armadilha do rentismo, que não deixa o país crescer, sustentavelmente, soberanamente? Zohran Mamdani é a nova ordem em ascensão nos Estados Unidos da sinalizando à periferia submetida à espoliação rentista colonizadora o caminho da sua libertação por meio do abandono das teorias monetaristas fracassadas que inviabilizam desenvolvimento econômico com distribuição de renda nacional. À direita desesperada, sem projeto algum para o país, nem aqui nem alhures, resta dizer que o novo prefeito novaiorquino não porta nenhum mandamento utopista, mas o velho refrão do populismo, enxergando neste o seu próprio funeral.
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Zohran Kwame Mamdani é um político estadunidense que atua como membro da Assembleia do Estado de Nova Iorque pelo 36º distrito, com sede no Queens, desde 2021. É membro do Partido Democrata e dos Socialistas Democráticos da América. Ele é o candidato democrata à prefeitura da cidade de Nova Iorque nas eleições de 2025


