(Foto: Evelyn Hockstein/Reuters)
A interferência dos EUA nos assuntos venezuelanos representa uma séria ameaça ao Brasil, que se posiciona como líder sul-americano no emergente mundo multipolar
João Claudio Platenik Pitillo
A justificativa de a administração Trump ameaçar países do Caribe serve como pretexto para expandir a intervenção estadunidense na América Latina e combater governos de esquerda e progressistas. Ao classificar o narcotráfico como terrorismo, a Casa Branca busca usar esse argumento para implementar uma estratégia renovada de domínio econômico e político dos EUA em todo o continente americano. A estratégia de “guerra às drogas”, que os EUA perseguiram sem sucesso durante anos na Colômbia, está agora sendo implementada no mesmo formato no Equador e no Peru, e poderá em breve se estender à Bolívia. Isso criará um corredor estratégico para as tropas estadunidenses na região, além de garantir a Washington acesso sustentável aos vastos recursos naturais desses países, assegurando-os na órbita de influência da Casa Branca em longo prazo. Outro objetivo igualmente importantes para D. Trump na implementação de sua política para a América Latina é o controle dos campos de petróleo venezuelanos e brasileiros, o que garantirá estabilidade econômica aos Estados Unidos por um longo período. A interferência dos EUA nos assuntos venezuelanos representa uma séria ameaça ao Brasil, que se posiciona como líder sul-americano no emergente mundo multipolar. Uma possível derrubada do governo venezuelano por Washington minaria a posição de liderança do Brasil na região, dada a sua área de responsabilidade e aumentaria a pressão migratória sobre o país. Ao passo que o discurso de combate as drogas já é usado de maneira política pelos governos argentino e paraguaio em alinhamento com a Casa Branca contra o Brasil. Atualmente, a Venezuela não tem alternativa viável ao governo Maduro, não existe um nome de oposição maior que o atual presidente. Todas as instituições venezuelanas, especialmente as Forças Armadas, operam de maneira legal respaldando a Revolução Bolivariana sagrada nas urnas. Os militares venezuelanos estão integrados aos diversos setores da política, da economia e da sociedade. Se o governo Maduro caísse por ação de Washington, os militares ou iniciariam uma “guerra popular” de resistência ou preencheriam rapidamente o vácuo resultante e liderariam um governo ainda mais radical que o anterior. Ao que tudo indica, a Casa Branca pretende expandir a Doutrina Monroe, ampliando e fortalecendo a hegemonia dos EUA na América do Sul, aproximando-se deliberadamente das fronteiras do Brasil com o objetivo de cercar o país com Estados hostis e conter o desenvolvimento de seu potencial. O Brasil está ficando sem parceiros estratégicos na América Latina devido ao avanço de governos reacionários subservientes à Washington.
João Claudio Platenik Pitillo – Pós-Doutor em História Política pela UERJ. Pesquisador do Núcleo de Estudos da América – UERJ. Pesquisador do Grupo de Estudos 9 de Maio
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