Mas quem navegaria com Temer (foto) sem ter a mão no leme? Fora a possível relação com ministros da Suprema Corte (STF) talvez não lhe reste mais nada que inspire interesse entre outros atores políticos
Notícias dão conta de que Michel Temer estaria articulando uma aliança de centro-direita para enfrentar Lula e o bolsonarismo em 2026. A ideia seria tentar convencer cinco governadores pré-candidatos a se unirem numa mesma frente. Como um verdadeiro mordomo da política, dá uma envernizada no discurso oportunista, alegando que todos deveriam, neste momento, se dedicar à elaboração de um programa de governo — programa esse que ele já teria até batizado: Movimento Brasil. Sei. O golpista contumaz e sem voto, artífice do golpe em Dilma Rousseff sob o título Ponte para o Futuro, agora afirma ser necessário aproveitar o fato de Bolsonaro estar inelegível e Lula com baixa aprovação para eleger um candidato desse campo. Mas quem navegaria com Temer sem ter a mão no leme? Fora a possível relação com ministros da Suprema Corte, talvez não lhe reste mais nada que inspire interesse entre outros atores políticos. Importante lembrar que, em 2022, alianças tentaram romper a polarização e fracassaram. Contudo, o quadro hoje é diferente. Com o enfraquecimento do bolsonarismo, há sim espaço para uma candidatura com discurso menos belicista. Mas, inevitavelmente, para essa candidatura prosperar, será preciso negociar com os raivosos. Esse povo que professa fé da boca para fora e não se orienta por Provérbios 19:11 não tem condições de vencer uma eleição sozinho. Mas representa um conjunto de eleitores que influencia uma parcela significativa do eleitorado. Uma candidatura à direita — ainda que com pinceladas de centro — terá que pagar pedágio para os extremistas. Eles garantem um bom ponto de partida para qualquer projeto político. Além disso, possuem uma máquina de campanha com altíssima capilaridade: os templos pós-pentecostais. Agora, essa construção passa longe de Michel Temer. As pessoas até podem suportar convescotes em mesas reservadas de restaurantes-clube em São Paulo, para agradar possíveis (e não comprovadas) relações que o golpista mantém. Mas daí a entregar a articulação de uma candidatura competitiva nas próximas eleições nas mãos dele, tem uma distância bastante grande. Até porque já parece estar na cabeça do bolsonarismo — se é que ele a tem — que Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, será o seu candidato, com a inclusão de algum familiar do clã como vice. Ao mordomo, então, caberá o que lhe resta: assistir e jogar no campo em que ele é especialista — e que definitivamente não envolve as urnas.