“O governo italiano deve ser claro. Sem cidadania para os filhos de Bolsonaro e para o ex-presidente. Sem cidadania para os golpistas”, declarou Angelo Bonelli
Um deputado da coalizão Aliança Verdes e Esquerda (AVS) levou ao Parlamento italiano o caso da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que manifestou a intenção de se refugiar na Itália. “Apresentei hoje um questionamento aos ministros Piantedosi [Interior] e Tajani [Relações Exteriores] para saber se o governo italiano pretende colaborar com o Brasil e com a Interpol, implementando o acordo de cooperação judiciária entre Itália e Brasil em matéria de extradição”, afirmou Angelo Bonelli, que integra a oposição ao governo da premiê Giorgia Meloni, de acordo com a agência ANSA. O deputado foi categórico ao relembrar os motivos da condenação de Zambelli, a quem classificou como “expoente do partido de Bolsonaro”. Segundo Bonelli, a parlamentar bolsonarista foi punida por “fabricar um falso mandado de prisão” contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, após invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). “A Itália arrisca se tornar um paraíso para golpistas. Esperamos uma resposta rápida do governo”, concluiu. Zambelli, por sua vez, declarou à CNN Brasil que está atualmente nos Estados Unidos, mas que pretende se deslocar para a Itália, país do qual possui cidadania. A fala gerou reação imediata da Procuradoria-Geral da República (PGR), que solicitou sua prisão preventiva e o acionamento da Interpol para incluí-la na lista vermelha, mecanismo que facilita a captura internacional de foragidos. À emissora, a deputada foi enfática ao se dizer amparada pela nacionalidade italiana: “Como cidadã italiana, eu sou intocável na Itália, não há o que ele [Moraes] possa fazer para me extraditar de um país onde eu sou cidadã, então eu estou muito tranquila quanto a isso”. Apesar da afirmação, um precedente pode enfraquecer sua posição: em 2015, a Itália autorizou a extradição de Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil condenado no escândalo do mensalão, mesmo ele possuindo cidadania italiana. De acordo com o jornal O Globo, o parlamentar também reforçou a existência de um acordo bilateral entre Brasil e Itália — a Lei nº 144/1991 — que regula os trâmites de extradição entre os dois países. “Quais medidas urgentes pretendem adotar, cada um no âmbito de suas competências, para garantir o cumprimento das disposições, no caso de Carla Zambelli, previstas na Lei nº 144/1991 […] colaborando desde já com a Interpol?”, escreveu o parlamentar no documento encaminhado aos ministros. Bonelli também propõe uma mudança na legislação nacional que permita a revogação da cidadania italiana a indivíduos condenados por crimes de golpe ou tentativa de golpe de Estado, crimes contra a humanidade, incitação à subversão violenta da ordem constitucional ou à supressão da ordem política e jurídica do país. A posição do parlamentar não é inédita. Em janeiro de 2023, durante sessão na Câmara dos Deputados da Itália, Bonelli já havia alertado sobre a tentativa da família Bolsonaro de obter cidadania italiana. “Há rumores da imprensa brasileira de que o Jair Bolsonaro, que está atualmente na Flórida, solicitou cidadania italiana. Você sabia que os filhos de Bolsonaro também solicitaram cidadania? Isso seria um grande problema para a república italiana”, afirmou na ocasião, de acordo com a reportagem. Bonelli usou a tribuna para condenar os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quando extremistas depredaram as sedes dos três Poderes: “O governo italiano deve ser claro. Sem cidadania para os filhos de Bolsonaro e para o ex-presidente. Sem cidadania para os golpistas”, declarou.