“Me decepcionou ver um projeto tão volumoso que, em vez de reduzir o déficit, o aumenta. Isso mina tudo que tentamos construir com o DOGE”, disse o Bilionário.
O bilionário Elon Musk anunciou nesta quarta-feira (28) oficialmente sua saída do governo dos Estados Unidos após divergências públicas com o presidente Donald Trump sobre o novo pacote fiscal aprovado pela Câmara. Musk, que ocupava um cargo informal como “funcionário especial” à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), usou sua conta na rede X para confirmar que sua participação chegou ao fim. Segundo ele, a decisão foi motivada pela frustração com os rumos fiscais da atual administração. “A missão do DOGE vai continuar e se fortalecer com o tempo”, afirmou Musk, encerrando sua fala com agradecimentos a Trump pela oportunidade de “cortar gastos desnecessários”.
Críticas ao plano trilionário de Trump
A ruptura foi catalisada por um projeto de lei apelidado por Trump de “one big beautiful bill”, que amplia cortes de impostos iniciados em 2017, aumenta gastos com defesa e fronteiras, e impõe novas exigências para o acesso a benefícios sociais como o Medicaid. A proposta, segundo a estimativa da CBO (Congressional Budget Office), deve adicionar US$ 3,8 trilhões à dívida pública até 2034.
Em entrevista à CBS, Musk foi direto:
“Me decepcionou ver um projeto tão volumoso que, em vez de reduzir o déficit, o aumenta. Isso mina tudo que tentamos construir com o DOGE.” O pacote também revoga incentivos fiscais para energias limpas, medida que afeta diretamente o setor de veículos elétricos. A proposta foi aprovada na Câmara por margem mínima e agora segue para o Senado. Embora o DOGE tenha sido criado com a promessa de cortar a gordura da máquina pública, suas ações geraram controvérsias desde o início. A comissão liderada por Musk foi responsável por demissões em massa e cortes em áreas sensíveis, como a assistência internacional. Algumas iniciativas foram revertidas por decisões judiciais ou enfrentaram oposição direta de membros do próprio governo Trump. O Pentágono, por exemplo, suspendeu medidas implementadas por Musk, incluindo questionários semanais enviados a funcionários públicos para rastrear produtividade. Apesar das alegações de que o DOGE já teria economizado US$ 175 bilhões ao governo, esse valor ainda está longe da meta inicial de US$ 1 trilhão que Musk havia prometido.
Saída marcada por desgaste político e queda no prestígio
Mesmo sem integrar oficialmente o gabinete, Musk era uma das figuras mais próximas de Trump na nova gestão. Sua saída marca a primeira baixa de peso no círculo de confiança do presidente em seu segundo mandato. O timing também coincide com a pior crise financeira recente da Tesla, que registrou uma queda de 71% nos lucros e forçou Musk a anunciar, em abril, que reduziria seu envolvimento com o governo. A deterioração de sua imagem pública se acentuou com episódios como seu apoio ao partido ultranacionalista AfD na Alemanha e a participação polêmica em reuniões da Casa Branca usando bonés duplos e levando o filho ao gabinete.
Contradições e legado em xeque
A trajetória de Musk no governo Trump expôs uma contradição difícil de ignorar: o mesmo empresário que se projetou como ícone da inovação verde terminou associado a uma administração que nega as mudanças climáticas e reverte políticas ambientais. A tentativa de conter o impacto disso incluiu ações como colocar Trump ao volante de um Tesla em evento público, mas os danos à imagem da empresa já estavam feitos. Apesar das bravatas iniciais, como posar com uma motosserra recebida de Javier Milei e prometer uma reforma radical no funcionalismo, a passagem de Musk por Washington terminou com um tuíte discreto e uma aparente mágoa. Agora, com a proposta fiscal avançando no Congresso e a popularidade de Musk em queda tanto no meio corporativo quanto político, resta saber se o DOGE terá vida longa sem seu criador ou se será apenas mais um experimento de curto prazo na era Trump.