O discurso de Lula num dos púlpitos mais importantes do mundo pode ganhar um tom ainda mais simbólico por causa dos ataques que o presidente Donald Trump vem fazendo ao Brasil desde o mês de julho e de suas ameaças tarifárias a países de diferentes continentes. O evento acontece no dia 23 e se estende ao dia 24 de setembro, quando ocorre a Cúpula do Clima da ONU
Na semana que vem, (23 e 24 de setembro) Lula tem viagem marcada para os Estados Unidos da América (EUA) para participar da edição anual Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Tradição em meados de setembro, o compromisso é tido como central na agenda do presidente, que vai discursar em Nova York durante a abertura da cúpula. Mas este ano o discurso em um dos púlpitos mais importantes do mundo pode ganhar um tom ainda mais simbólico por causa dos ataques que o presidente Donald Trump vem fazendo ao Brasil desde o mês de julho e de suas ameaças tarifárias a países de diferentes continentes. A expectativa é que o pronunciamento de Lula destaque a posição do país no cenário internacional, reafirmando o multilteralismo e a soberania em um contexto de tensões, marcado pelo julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e as articulações de interferência de Eduardo Bolsonaro (PL) na Justiça brasileira, que resultaram no tarifaço a produtos brasileiros. Não será a primeira vez que o presidente vai abordar a democracia como tema na ONU: em 2023, Lula denunciou os atos golpistas de 8 de janeiro.
Expectativa
Na sessão, logo em seguida, vai assumir a palavra o presidente dos EUA Donald Trump, momento em que o republicano pode destilar novos ataques ao Brasil ou anunciar a imposição de novas tarifas, leis sobre ministros do STF ou mesmo retaliações ilegais. É esperado que a Assembleia Geral seja palco de um “duelo” entre os líderes, mas com Lula sustentando os ideais de soberania, regulamentação das big techs, a defesa da criação do Estado da Palestina e planos contra as mudanças climáticas. Em novembro, o país sedia a COP30, em Belém (PA). O evento acontece no dia 23 e se estende ao dia 24 de setembro, quando ocorre a Cúpula do Clima da ONU, onde países apresentam suas propostas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptar às mudanças climáticas, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Apesar de não estar prevista uma reunião bilateral, Lula e Trump podem se encontrar informalmente nos corredores da ONU. Salvo em 2010, até o momento, nos três mandatos à frente do Executivo, o presidente Lula compareceu a todas as Assembleias, posicionando-se como destaque global.
‘Soberania e democracia não são negociáveis’
Neste domingo (14/9), Lula fez história outra vez ao publicar um artigo de opinião no jornal estadunidense The New York Times, uma das publicações mais lidas e respeitadas do mundo. O texto, escrito em inglês, foi uma resposta direta às recentes ameaças e retaliações do governo Donald Trump contra o Brasil, após a condenação de Jair Bolsonaro e outros sete réus pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Logo na abertura, Lula deixa claro o objetivo de seu gesto político: estabelecer um diálogo “aberto e franco” com Trump, mas sem abrir mão de princípios fundamentais. O presidente brasileiro reafirmou que a soberania do Brasil não está em negociação. “Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”, escreveu. O artigo rebate de forma dura as acusações de Trump de que o processo judicial contra Jair Bolsonaro tenha sido uma “caça às bruxas”. Lula lembrou que a condenação de Bolsonaro foi fruto de meses de investigação da Polícia Federal e de um processo conduzido em estrita conformidade com a Constituição de 1988. Lula acrescentou ainda: “As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022.”
Contra tarifas e chantagens de Trump
O presidente também denunciou as tarifas de 50% impostas por Trump sobre produtos brasileiros como uma medida sem base econômica, mas com clara motivação política: a tentativa de proteger Bolsonaro da responsabilização por seus crimes. “A falta de justificativa econômica por trás dessas medidas deixa claro que a motivação da Casa Branca é política. O governo americano está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa frustrada de golpe em 8 de janeiro de 2023”, escreveu Lula. Ele também rejeitou as acusações de que o Brasil persegue empresas de tecnologia americanas: “Todas as plataformas digitais, sejam nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil.” E reforçou: “É desonesto chamar regulamentação de censura, especialmente quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio. A internet não pode ser uma terra de ilegalidade, onde pedófilos e abusadores têm liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes.” Sobre o sistema de pagamentos brasileiro, o Pix, Lula foi categórico: “Ao contrário de prejudicar operadores financeiros dos EUA, o sistema de pagamentos digitais brasileiro, o Pix, possibilitou a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas. Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita transações e estimula a economia.”