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“Foi fruto da raiva, da carnalidade. Eu orava pedindo que ele morresse para não assumir a presidência”, confessou o pastor Douglas Borges
O pastor e cantor gospel Douglas Borges provocou forte repercussão nacional após admitir, em entrevista ao Eu Acredito Podcast, apresentado por Fábio Santos, que realizou uma campanha de 21 dias de oração pedindo a morte do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), às vésperas da eleição presidencial de 2022. A fala foi feita ao vivo na última terça-feira (23/9) e rapidamente viralizou nas redes sociais, dividindo opiniões entre fiéis, críticos e lideranças religiosas. Borges relatou que passava madrugadas em vigília, orando para que Lula não fosse eleito. Segundo ele, a iniciativa partiu de sentimentos pessoais de revolta. “Foi fruto da raiva, da carnalidade. Eu orava pedindo que ele morresse para não assumir a presidência”, confessou. Apesar da confissão polêmica, Borges afirmou que sua postura mudou ainda durante a campanha. Ele contou que, no vigésimo dia da sequência de orações, foi surpreendido por uma experiência espiritual. “Estava acordado de madrugada, assistindo à televisão, quando passou uma propaganda do Lula. Meus olhos se encheram de lágrimas. O Espírito Santo falou comigo: ‘Eu não olho ele como você vê. Para mim, ele ainda é uma alma, é um filho. Se ele se arrepender, há um novo começo’”, relatou. O pastor disse que naquele momento sentiu-se tocado e recuou da intenção inicial. Em sua fala, chegou a dirigir uma mensagem diretamente ao presidente da República: “Lula, se arrependa, aceite Jesus como salvador. Jesus é nosso maior líder e não há salvação em outro ser”, declarou. Durante o mesmo programa, Douglas Borges também enviou uma mensagem ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O tom foi de alerta, mas envolveu novamente a retórica religiosa. “Se arrependa, Jesus tem uma obra muito grande na sua vida. Se fosse depender de nós homens, muita coisa teria acontecido com você. Mas ainda bem que nosso coração não é o coração de Deus. Deus ama a sua vida. Mas cuidado, tá? Deus é justiça”, afirmou.
Conservador e ligado ao bolsonarismo
Borges se apresenta publicamente como conservador e simpatizante da direita bolsonarista. No entanto, aproveitou a entrevista para afirmar que não concorda com todas as atitudes do ex-presidente Jair Bolsonaro (P-RJL). “Tem muita coisa que ele fez que eu não concordo. Faltou temperamento, conversava fiado demais”, avaliou, embora reafirmasse sua identificação ideológica com a direita cristã. A fala do pastor gospel rapidamente viralizou, alcançando milhares de visualizações e gerando uma enxurrada de comentários. Entre críticos, a atitude foi classificada como exemplo perigoso de intolerância política, ainda mais partindo de uma figura religiosa que ocupa espaço de influência entre fiéis. Para outros, a confissão de arrependimento e a mudança de postura demonstrariam honestidade espiritual. Lideranças religiosas também se manifestaram. Pastores progressistas apontaram a declaração como “sintoma de uma espiritualidade adoecida pelo ódio político”, enquanto aliados mais conservadores minimizaram o episódio e ressaltaram o relato de transformação. Apesar de discursos como o de Douglas e ataques histriônicos como os de Silas Malafaia, Lula cresce nas pesquisas no meio evangélico e ensaia uma possível virada até a eleição de 2026. Casos como o do pastor/cantor se insere nesse contexto de tensão, expondo as contradições de uma religião que prega amor, mas que em alguns segmentos ainda se vê instrumentalizada pela retórica da guerra espiritual contra adversários políticos.