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Porfírio (centro) o camponês que enfrentou o poder

Neste episódio de Relatos – A Estação da História, contamos a trajetória de José Porfírio de Souza, líder camponês e deputado estadual em Goiás, que se tornou símbolo da resistência à ditadura militar brasileira. Nascido no interior, com pouca instrução formal, Porfírio desafiou grileiros, coronéis e o regime autoritário. Após ser cassado em 1964, protagonizou uma fuga épica pelos rios Canabrava e Tocantins. Preso em 1972, foi libertado por habeas corpus e, em 1973, desapareceu misteriosamente. Seu nome entrou para a lista de assassinados por ação de agentes do Estado brasileiros duas décadas depois.

p/ Djalba Lima

Com pouca instrução, mas uma coragem que nenhum diploma assegura, ele enfrentou coronéis, jagunços e forças militares. José Porfírio de Souza era um homem da terra, do povo, da fala direta – camponês semiletrado que se fez líder, símbolo e ameaça aos donos do poder. Do cerrado goiano ao plenário da Assembleia Legislativa, sua trajetória foi uma marcha de resistência. Mas um dia ele desapareceu. Sem explicação. Sem corpo. Sem justiça. Neste episódio de Relatos – A Estação da História, seguimos os rastros desse homem que ousou sonhar alto com os pés no chão.

Samara – A trajetória de Porfírio, nascido em 1912 em Pedro Afonso (Goiás – hoje municipio do estado do Tocantins. Zé Porfírio morou também em Trombas – norte de Goiás) reflete múltiplos elementos de nossa história – como a grilagem de terras; a cumplicidade de autoridades públicas com os grileiros; o desamparo do homem do campo; sua luta para garantir o direito de produzir e alimentar sua família; e, finalmente, a ação do Estado para criminalizar a resistência.

Djalba – E sabe o que é mais impressionante? A história de Porfírio já começou com tragédia – sua primeira esposa, Rosa Amélia, com quem teve seis filhos, morreu de infarto depois de ver policiais e jagunços, contratados por grileiros de terras, invadirem e incendiarem sua casa.

Samara – Que terrível! E mesmo assim ele continuou lutando, não é? Casou-se novamente, com Dorina, e teve mais 12 filhos.

Djalba – Sim, a luta de Porfírio continuou como líder da Revolta de Trombas e Formoso, na década de 1950. O arsenal era improvisado e precário: velhas espingardas, revólveres, foices e facões foram usados nos confrontos. Mas os posseiros tinham vantagens: bom conhecimento da região e habilidade de se camuflar nas matas e nas serras, emboscando os jagunços e soldados. E mais: lutavam por uma causa – a sua terra. Não foi um movimento pacífico: a guerrilha de Porfírio reprimiu com violência todas as tentativas de reintegração de posse em favor dos grileiros. Esse movimento culminou com algo EXTRAORDINÁRIO para a época: a regularização das terras, com o cancelamento dos títulos que haviam sido dados aos grileiros, e a concessão de 20 mil títulos de propriedade aos posseiros. O desfecho favorável aos ocupantes da terra aconteceu em 1962, na gestão do então governador de Goiás, Mauro Borges.

Samara – No ambiente polarizado da década de 1960, a ação de Porfírio certamente teve muita repercussão, não foi?

Djalba – Sem dúvida. No livro Trombas – A guerrilha de Zé Porfírio, o jornalista Sebastião de Barros Abreu conta que, em Goiânia, as esquerdas estavam em estado de graça. Encaravam aquele grupo de camponeses armados como embrião de um exército de libertação nacional. Segundo Abreu, a juventude estudantil, na Faculdade de Direito da Rua 20 e no Liceu, se empolgava com as notícias vindas do norte e promovia discussões infindáveis de táticas e estratégias, que prosseguiam noite adentro nos bares da cidade. Houve até noivo que acabou com o compromisso para se alistar como voluntário nas forças de Porfírio.

Samara – E nesse clima Porfírio fez história ao se tornar o primeiro deputado camponês do Brasil, correto?

Djalba – Sim, mas, aí veio o golpe de 1964 e tudo mudou. Com o mandato cassado e os direitos políticos suspensos, Porfírio precisou fugir. E aí começa uma história que parece roteiro de filme.

Samara – Ah, você está falando da fuga pelos rios…

Djalba – Exatamente! José Porfírio, que havia retornado a Trombas, e alguns companheiros da época dos conflitos atravessaram o rio Canabrava a nado, chegaram ao rio Tocantins, pegaram uma canoa e navegaram por quase mil quilômetros até Carolina, no Maranhão. Viajavam à noite para não serem localizados por patrulhas policiais. Homem honesto, Porfírio pediu ao irmão, João Porfírio, que descobrisse quem era o dono da canoa e pagasse os custos.

Samara – E pensar que, mesmo depois dessa fuga impressionante, a perseguição não parou. A família dele sofreu consequências terríveis.

Djalba – Um dos casos mais brutais ocorreu em 1964 com filho Durvalino de Souza que, com apenas 17 anos, foi preso e barbaramente torturado para contar o paradeiro do pai. As sessões de tortura o deixaram louco. Internado no hospital psiquiátrico Adauto Botelho, de Goiânia, Durvalino desapareceu. Outro filho de Porfírio, Manoel, pegou sete anos de prisão por militância política.

Samara – Os amigos de Porfírio também foram pressionados?

Djalba – Na verdade, houve um cerco a quem pudesse dar pistas de Porfírio. Dirce Machado da Silva, camponesa que lutou com ele em Trombas, foi uma dessas pessoas que sofreram pressões e agressões. Questionada pelos policiais sobre o paradeiro do líder, ela respondeu: “Não digo porque não sei. E se soubesse também não diria”. Em seguida, os policiais começaram a xingá-la, e Dirce, revoltada com o tratamento, deu um tapa em um deles. “Então, ele me deu um ‘telefone’ e eu desmaiei. Acordei toda molhada de cachaça e de vômito”, contou Dirce em depoimento à Comissão Nacional da Verdade.

Samara – E como foi que finalmente conseguiram capturar o próprio Porfírio?

Djalba – Em 22 de fevereiro de 1972, quase oito anos após sua cassação, Porfírio foi preso numa operação da Polícia Militar de Goiás em Riachão, no Maranhão. De calção e descalço, ele foi levado para o Pelotão de Investigações Criminais, o temido PIC, em Brasília. Mas aí a história fica ainda mais sombria.

Samara – Por que mesmo depois de conseguir um habeas corpus e ser solto, ele simplesmente… sumiu?

Djalba – Exatamente. A pena imposta a Porfírio pela militância em partido clandestino foi de seis meses, cumprida havia bastante tempo. Mas ele continuava preso e, para libertá-lo, a advogada Elizabeth Diniz teve que pedir um habeas corpus no Superior Tribunal Militar. Em 7 de junho de 1973, já livre, Porfírio almoçou com Elizabeth, que lhe deu uma carona até a rodoviária de Brasília. Ele tomou um ônibus para Goiânia e, lá chegando, passou a noite na casa de José Sobrinho, seu companheiro de militância no antigo PCB. Na manhã do dia seguinte, foi a uma agência bancária para tentar desbloquear uma conta. A partir daí, ninguém mais teve notícias dele.

Samara – E depois começaram a circular histórias falsas sobre seu paradeiro, não é?

Djalba – Sim, uma das mais conhecidas dizia que ele tinha se tornado açougueiro em uma cidade do interior de Goiás. Como repórter do extinto jornal Cinco de Março, fui até lá com um filho de Porfírio, e verifiquei que era só uma pista falsa, uma das muitas com o objetivo de confundir as buscas.

Samara – Era uma tática comum da ditadura: criar essas histórias falsas para confundir as investigações.

Djalba – E só em 1995 — mais de vinte anos depois — seu assassinato foi admitido oficialmente. O nome de José Porfírio de Souza consta de um anexo da Lei 9140, de 1995, que reconhece como mortas pessoas desaparecidas por participação em atividades políticas na ditadura militar. A Comissão Nacional da Verdade constatou que Porfírio desapareceu em decorrência de ação de agentes do Estado brasileiro, “em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar”. A comissão recomendou a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso, para a localização dos restos mortais e responsabilização dos agentes envolvidos.

Samara – O que me impressiona é como essa história ilustra perfeitamente o método da repressão: primeiro a perseguição política; depois a violência contra a família; a prisão; e finalmente o desaparecimento.

Djalba – E você sabe por que ele era um alvo tão importante? Porque representava exatamente o que a ditadura mais temia: um líder que vinha do povo e provava na prática que a mudança era possível.

Samara – E por isso mesmo precisava ser silenciado de forma tão definitiva…

Djalba – Olha, a história de José Porfírio nos ensina muito sobre aquele período. Não era apenas sobre eliminar opositores – era sobre apagar completamente certas ideias da sociedade.

Samara – E talvez por isso mesmo seja tão importante continuar contando essa história.

Djalba – Sem dúvida. Porque cada vez que contamos a história de Porfírio, provamos que eles falharam em seu objetivo final: o esquecimento. A memória dele continua viva, inspirando novas gerações a lutarem por justiça social.

Samara – Este foi mais um episódio de Relatos A Estação da História.

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