“O Lula, sem mim [na disputa], ganha a eleição de qualquer um. Ganha a eleição. Ele tem a máquina na mão, usa a máquina. Não interessa as consequências”, afirmou o ex-presidente Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL/RJ) declarou nesta sexta-feira (18/7), em entrevista à agência de notícias Reuters, que a ausência de seu nome na eleição presidencial de 2026 abre caminho para a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ele, o atual mandatário “ganha a eleição de qualquer um” caso ele não esteja na disputa. Bolsonaro está inelegível e enfrenta um julgamento por tentativa de golpe, além de outras investigações em curso. “O Lula, sem mim [na disputa], ganha a eleição de qualquer um. Ganha a eleição. Ele tem a máquina na mão, usa a máquina. Não interessa as consequências”, afirmou o ex-presidente. Ao longo da entrevista, Bolsonaro voltou a se queixar do processo que o impede de concorrer. “Que injustiça eu não poder concorrer. Que injustiça me chamar de golpista”, disse. Mesmo ciente da inelegibilidade imposta pela Justiça Eleitoral, o ex-presidente afirmou: “Eu por enquanto sou candidato, não passa pela minha cabeça indicar outro nome”.
Previsão de prisão e crítica ao STF
Durante a conversa com a Reuters, Bolsonaro disse esperar ser preso até o fim de agosto, período em que está previsto o julgamento sobre a trama golpista que teria liderado. Ele também foi alvo de uma operação da Polícia Federal nesta sexta-feira e foi obrigado, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, a usar tornozeleira eletrônica. “Isso aí o sentimento é que vai acontecer [a prisão]. Até o mês que vem, que é o julgamento. Mais ou menos 20 de agosto é o julgamento. Nunca se viu um processo tão rápido quanto o meu”, afirmou Bolsonaro. Questionado sobre estar preparado para uma eventual prisão, respondeu: “Tenho 70 anos de idade, vasta experiência de vida. Tudo pode acontecer”. O ex-presidente acusou Moraes de perseguição e lançou uma metáfora dramática sobre sua situação: “Eu estou no cadafalso. Na hora que o soberano Alexandre de Moraes achar que tem que chutar o banquinho, ele chuta”. E foi além: “O sistema não me quer preso, o sistema me quer morto”.
Restrição nas redes e atuação internacional de Eduardo Bolsonaro
Bolsonaro também protestou contra a proibição de usar redes sociais, uma das medidas cautelares impostas por Moraes. “É uma covardia, isso não é democracia. Tirar a voz de uma pessoa não é democracia. Eu não estou condenado ainda. Respondo a um processo sem pé nem cabeça”, reclamou. As declarações à Reuters foram a terceira manifestação pública de Bolsonaro no mesmo dia. Ele já havia falado em frente à sede da Polícia Federal e, mais tarde, ao chegar à sede do PL em Brasília. Outro foco da entrevista foi a atuação internacional de seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos. Jair Bolsonaro afirmou que Eduardo tenta influenciar a opinião pública americana e o governo de Donald Trump — presidente dos EUA em segundo mandato — a favor de seu grupo político. Segundo o ex-presidente, o filho corre risco de prisão caso retorne ao Brasil e poderia optar por se tornar cidadão americano: “Acredito que ele vá buscar a alternativa de se tornar um cidadão americano e não volta mais para cá”.
Contexto e investigações
A nova operação da Polícia Federal contra Bolsonaro está relacionada a um inquérito envolvendo Eduardo Bolsonaro. O ex-presidente é acusado de liderar uma tentativa de golpe para impedir a posse de Lula em 2023. Além disso, enfrenta outros processos em curso. Com a tornozeleira eletrônica e restrição de comunicação, Bolsonaro está sob vigilância intensa às vésperas do julgamento da principal acusação contra ele. A aposta de seu grupo é internacionalizar o discurso de perseguição, utilizando entrevistas como a concedida à Reuters para mobilizar apoio entre aliados no exterior, especialmente nos EUA.