Um perfil bolsonarista escreveu: “Acabo de ter o desprazer de encontrar esse ser humano no meu almoço aqui na Cobal do Humaitá”. Nos comentários, outro usuário incentivou a agressão: “Dá uma pedrada nela. kkkk”
Após as ameaças e ataques misóginos sofridos pela antropóloga e professora doutora Jacqueline Muniz, docente do Departamento de Segurança Pública e do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), a instituição de ensino se manifestou, neste domingo (2), por meio de uma nota. Os ataques, via redes sociais, foram motivados pelas duras críticas públicas que ela fez ao massacre policial ocorrido nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que culminou com a morte de 121 pessoas, por ordem do governador Cláudio Castro (PL).
Leia a íntegra da nota da UFF
“A Universidade Federal Fluminense (UFF) manifesta seu irrestrito apoio institucional e solidariedade à professora doutora Jacqueline Muniz, docente do Departamento de Segurança Pública e do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança Pública (DSP/IAC/UFF). Com uma trajetória acadêmica e profissional reconhecida, com ampla experiência em pesquisa e formulação de políticas públicas na área de segurança, a professora tem contribuído de forma qualificada para o debate democrático sobre temas sensíveis da sociedade, como a recente megaoperação no Rio de Janeiro, que resultou em mais de 120 mortes. Sua presença no debate público é expressão legítima da liberdade de cátedra e de pensamento crítico, fundamentos do ambiente universitário, da ciência e do Estado Democrático de Direito. A instituição acompanha com preocupação os ataques, perseguições e discursos de ódio e misóginos direcionados à docente nas redes sociais e por parte de parlamentares, em decorrência de suas análises. Reitera, portanto, seu repúdio a qualquer forma de intimidação ou tentativa de silenciar vozes comprometidas com o conhecimento e a defesa dos Direitos Humanos. A UFF reafirma seu compromisso com os valores e princípios democráticos que orientam sua missão, o pensamento crítico, a produção científica e o diálogo plural como instrumentos de transformação social. A construção de uma sociedade mais justa e igualitária é um objetivo permanente e, para alcançá-lo, o confronto de ideias, opiniões e perspectivas deve ser estimulado como algo positivo e necessário à busca de soluções que atendam ao interesse público. A democracia exige o respeito às diferenças e a capacidade de conviver com as divergências. Nesse sentido, a Universidade expressa seu total apoio e solidariedade à professora Jaqueline Muniz, destacando que estará ao seu lado para garantir todo o suporte necessário”.
Ataques e ofensas
Os ataques ocorreram sábado (1º/11). Jacqueline se dirigia a um restaurante quando foi fotografada por pessoas que publicaram as imagens nas redes, junto a ataques e ofensas. Um perfil bolsonarista escreveu: “Acabo de ter o desprazer de encontrar esse ser humano no meu almoço aqui na Cobal do Humaitá”. Nos comentários, outro usuário incentivou a agressão: “Dá uma pedrada nela. kkkk”.
Divulgação

Deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO)
A antropóloga destacou, também, que determinadas ameaças tiveram como motivação publicações de parlamentares bolsonaristas, entre eles os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Gustavo Gayer (PL-GO). “Algumas pessoas foram estimuladas por postagens desses deputados, o que ampliou o volume das ameaças”, ressaltou. Jacqueline citou uma usuária que estaria estimulando ataques: “Esta senhora deste perfil está incitando manifestações de violência contra mim. Fica aqui registrado para futuro desdobramento legal!”, apontou.


