É um triste retrato de como a fé e a confiança do povo podem ser manipuladas por interesses pessoais e políticos
Em 2023, aliados promoveram uma campanha nas redes sociais para angariar fundos para que Bolsonaro pudesse arcar com multas judiciais aplicadas durante seu mandato, especialmente relacionadas ao descumprimento de normas sanitárias durante a pandemia de Covid-19. O esforço rendeu-lhe a bagatela de R$ 17,2 milhões enviados via Pix entre janeiro e julho daquele ano. A campanha ganhou força nas redes sociais, com a divulgação da chave Pix de Bolsonaro por ex-ministros e parlamentares do PL, como os deputados Nikolas Ferreira (MG), Mário Frias (SP), Gustavo Gayer (GO) e André Fernandes (CE), que alegavam que o ex-presidente era vítima de “assédio judicial” e precisava de ajuda para quitar “diversas multas em processos absurdos”. Segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), foram registradas 769.717 operações de Pix na conta de Bolsonaro nesse período, totalizando R$ 17.196.005,80. A maioria das doações veio de cidadãos comuns, mas foram identificados uma empresária do agronegócio, que doou R$ 20 mil; um empresário da construção civil, que contribuiu com R$ 10 mil; e um escritor, que também enviou R$ 10 mil. Mas acontece que, esta semana, o próprio Bolsonaro declarou que está utilizando esse recurso para custear a estadia de Eduardo Bolsonaro e família nos Estados Unidos. Licenciado da Câmara dos Deputados, o filho número três do ex-presidente alegou estar sendo alvo de perseguições no Brasil e saiu do país sob a justificativa de ir em busca da anistia para aqueles que foram presos após os eventos de 8 de janeiro de 2023. A utilização do valor arrecadado para fins diferentes dos inicialmente declarados gerou críticas e questionamentos sobre a transparência e a responsabilidade na gestão das doações recebidas. Sem contar que toda essa situação levanta sérias questões sobre ética e a relação abusiva entre alguns líderes políticos e seus seguidores. É importante destacar que a maioria das doações foi feita por cidadãos comuns, muitos deles assalariados, que acreditaram estar contribuindo para uma causa específica. A utilização desses recursos para fins pessoais, como o custeio de estadias em locais como Disney e Palm Beach, foge a qualquer padrão de decência ou moralidade. Além disso, a justificativa de que Eduardo está nos EUA para “lutar” pela democracia e que só retornará ao Brasil quando o ministro Alexandre de Moraes for punido por “abuso de autoridade” não passa de uma tentativa de evitar responsabilidades legais e políticas.
Lamentam as pessoas de bom senso que, tantos brasileiros e brasileiras tenham sido usados para financiar o conforto de uma família que, ao que parece, pouco se importa com as dificuldades enfrentadas por aqueles e aquelas que os apoiaram. É um triste retrato de como a fé e a confiança do povo podem ser manipuladas por interesses pessoais e políticos.